segunda-feira, 29 de agosto de 2011

CARTA AOS IRMÃOS [2] - 1 º GRAU


CARTA AOS IRMÃOS [2]

Edição 514 - Publicado em 11/Junho/2011 - Página 33

Reconhecer as influências negativas

Ele [o Rei Demônio] está determinado a fazer os seguidores do Sutra de Lótus caírem no inferno; porém, quando fracassa, tenta enganá-los, desviando-os para o Sutra Guir­landa de Flores,19 que se parece com o Sutra de Lótus.
Essas ações foram conduzidas por Tu-shun, Chih-yen, Fa-tsang e Ch’eng-kuan.20 Assim, Chia-hsiang e Seng-ch’uan21 foram os maus companheiros que, ardilosamente, desviaram os seguidores do Sutra de Lótus para cair de volta nos sutras da Sabedoria. Do mesmo modo, Hsüan-tsang e Tz’u-en22 [foram más influências que] levaram-nos ao Sutra dos Profundos Segredos, enquanto Shan-wu-wei, Chin-kang-chih, Pu-k’ung,23 Kobo, Jikaku e Chisho24 [foram más influências que] persuadiram-nos a seguir o Sutra Mahavairochana. Bodhidharma e Hui-k’o 25 [foram influências negativas que] desviaram-nos para a escola Zen, enquanto Shan-tao e Honen26 [foram más influên­cias que] induziram-nos a seguir o Sutra da Meditação. Em cada um dos casos, o Rei Demônio do Sexto Céu possuiu esses homens de sabedoria a fim de enganar as pessoas de bem. É isso que o Sutra de Lótus quer dizer quando afirma em seu quinto volume: “Demônios maléficos se apossarão das pessoas” (WND, v. 1, p. 496).
Tal como indicam as palavras: “determinado a fazer os seguidores do Sutra de Lótus caí­rem no inferno”, o Rei Demônio do Sexto Céu recorre a todos os meios para impedir que os seguidores do Sutra de Lótus atinjam o estado de Buda. Como exemplo disso, Daishonin cita os atos dos sacerdotes de diversas escolas budistas, afirmando que eles buscam gradualmente enganar os seguidores numa tentativa de afastá-los do Sutra de Lótus e de tudo que se “assemelhe” a ele.
Nitiren Daishonin diz: “Em cada um dos casos, o Rei Demônio do Sexto Céu possuiu esses homens de sabedoria a fim de enganar as pessoas de bem”. A seguir, ele expõe uma longa lista de sacerdotes de alto escalão, respeitados pelas diversas escolas budistas da época. Como todos eles desviam os sinceros praticantes do caminho correto, ele esclarece que, na realidade, representam “maus amigos” ou “maus mestres”, e são o exemplo perfeito de pessoas governadas pelas funções do Rei Demônio. Explica que isso se refere à passagem do 13º capítulo do Sutra de Lótus, “Devoção Encorajadora”, quando diz: “Demônios malignos se apossarão das pessoas” (LS, cap. 13, p. 194).
Visto que esses sacerdotes são respeitados pela sociedade, as pessoas não conseguem discernir a verdadeira natureza deles. Ao contrário, elas estimam esses indivíduos de comportamento errôneo e valorizam seus ensinos, deixando que o “veneno penetre profundamente na vida delas”,27 sem se dar conta e, como resultado, desviam a “mente da verdade”.28 Isso os fazem se afastar do Sutra de Lótus e inclusive a caluniá-lo. Este é o terrível resultado de uma sociedade cujos habitantes sucumbem às influên­
cias negativas. Em determinado momento, o juízo normal das pessoas se turva e a sociedade começa a debilitar-se. Porém, as pessoas não conseguem entender a causa disso.
O devoto do Sutra de Lótus se empenha para ensinar às pessoas a verdade sobre o veneno que tem penetrado as profundezas de seu ser. Contudo, aqueles a quem pretende ensinar, presos à ilusão, tratam-no como um vilão. Ele, no entanto, persevera em 
seu desejo de revelar a face horrenda da calúnia à Lei, recorrendo ao poder da palavra e da razão, embasadas no Sutra de Lótus, e a expõe para todos verem a verdadeira natureza dos mestres errôneos e de outras influências negativas. Esta é a batalha descrita no trecho em verso de vinte linhas do 13º capítulo do Sutra de Lótus, “Devoção Encorajadora”.29
Nessa passagem de “Carta aos Irmãos”, Daishonin menciona, sem vacilar, o nome dos fundadores e eminentes sacerdotes de várias escolas prestigiosas da época, denunciando-os abertamente como os principais culpados de o povo ter perdido a fé no Sutra de Lótus. Ele não temia as críticas nem os insultos. Em outros escritos também o encontramos dizendo: “Deixe que me odeiem se quiserem” (Cf. WND, v. 1, p. 464), e “Pois que digam o que quiserem a meu respeito” (WND, v. 1, p. 626). Seu compromisso e sua determinação inabaláveis revelam que ele é o verdadeiro devoto do Sutra de Lótus. Porque, sem essa atitude resoluta, ninguém pode lutar contra as forças negativas inerentes à vida, personificadas pelo Rei Demônio do Sexto Céu.
O Sr. Toda, do mesmo modo, assumiu uma postura rígida com os maus sacerdotes e as outras pessoas que exerciam influência destrutiva, indivíduos que haviam sucumbido às funções do Rei Demônio do Sexto Céu. De todos eles, os que cometeram a falta 
mais grave foram os sacerdotes corruptos e decadentes da Nitiren Shoshu, aqueles que supostamente deveriam defender e manter o ensino de Nitiren Daishonin. Ele sempre alertava esses sacerdotes sem rodeios e os deixava saber claramente o que 
pensava deles. Por terem voltado as costas aos ensinos de Daishonin durante a Segunda Guerra Mundial e por terem insultado e abandonado o presidente Makiguti no momento mais difícil, o Sr. Toda os denunciou.
Não há como ignorar ou aceitar os que traí­ram e tentaram destruir o ensino correto. Esse espírito é um aspecto essencial do Budismo Nitiren.

Derrotar a escuridão fundamental com o poder da fé

O grande demônio da escuridão fundamental30 pode até mesmo entrar nos corpos dos bodhisattvas que atingiram a iluminação quase perfeita31 e bloquear a possibilidade de eles atingirem o benefício da perfeita iluminação32 do Sutra de Lótus. Que facilidade ele tem de obstruir a prática daqueles que estão nos estágios mais inferiores! (WND, v. 1, p. 496)
Até este trecho, Nitiren Daishonin esclarece que os “maus amigos” ou as influências negativas que tentam destruir a fé das pessoas no Sutra de Lótus são personificados por “homens de sabedoria dos quais os demônios malignos se apoderam”, e que essas influências, na realidade, nada mais são que as funções do Rei Demônio do Sexto Céu.
Mas se essas pessoas são sábias, como é que o Rei Demônio pode valer-se delas? A razão é simples: elas não são vencidas pela influência externa, mas pela interna. São vencidas pela natureza maléfica conhecida como “escuridão fundamental”, que lhes é inata ou inerente. Em outro escrito [“O Tratamento da Doença”], Nitiren Daishonin ressalta: “A escuridão fundamental expressa-se como o Rei Demônio do Sexto Céu” (WND, v. 1, p. 1113).
Todas as pessoas possuem essa escuridão fundamental na vida. Nitiren Daishonin afirma que ela existe também na vida dos budas. Portanto, no caso dos bodhisattvas que se encontram no nível da iluminação quase perfeita, a escuridão fundamental de sua vida pode ativar a função do Rei Demônio e impedi-los de chegar ao estado da perfeita iluminação, ou estado de Buda. Se isso pode ocorrer com os bodhisattvas que estão no penúltimo estágio, quão mais expostos não estaríamos nós, pessoas comuns.
O Rei Demônio do Sexto Céu é o ímpeto negativo que reside nas profundezas da vida das pessoas. É a negatividade ou a natureza destrutiva que dá origem ao desejo de controlar os demais, inclusive de tirar-lhes a vida, que causa a destruição e a guerra.
Para derrotar essa natureza maléfica, precisamos fazer que a natureza do Dharma ou a natureza fundamental da iluminação,33 que existe em nós junto com a escuridão fundamental, se manifeste. Para isso, é imprescindível continuarmos a nos empenhar na fé, praticando o Budismo Nitiren e compartilhando-o com os demais.
Em uma de suas explanações, o presidente Toda comentou sobre o fato de no Gohonzon estar inscrito o nome do Rei Demônio do Sexto Céu: “O Rei Demônio do Sexto Céu está representado no Gohonzon. Assim, quando oramos ao supremo objeto de devoção, o Rei Demônio obedece ao Gohonzon [à Lei de Nam-myoho-rengue-kyo]. O Rei Demônio ordenará aos líderes dessa força insidiosa que se detenham. O potencial originalmente iluminado do Rei Demônio se manifesta por meio do Gohonzon. De fato, todas as entidades [nele representadas] mostram os dignos atributos inatos quando são iluminados pelo Nam-myoho-rengue-kyo”.
Ele prosseguiu dizendo: “O Rei Demônio do Sexto Céu então se converte pela primeira vez numa entidade que ajuda e beneficia as pessoas”. Essas observações se relacionam com um profundo princípio que é a essência do Budismo Nitiren.
No “Registro dos Ensinos Orais” consta: “A palavra ‘fé’ é a espada afiada com a qual se enfrenta e vence a escuridão ou ignorância fundamental” (OTT, p. 119-120). Como a frase indica, o que nos permite vencer a escuridão fundamental é a espada afiada da fé. Isso denota perseverarmos e desafiarmos na fé por toda a nossa vida. Significa reconhecer as funções demoníacas tal como se apresentam, e fazer surgir constantemente a natureza fundamental da iluminação que existe em nosso interior. Mediante a fé que se aprofunda a cada dia, a cada mês, podemos erradicar de nossa vida, num nível essencial, as funções da escuridão ou da ignorância.
Por isso é tão importante ter um mestre na fé que nos ofereça orientação correta. O Sr. Toda frequentemente me dizia: “Se você é um verdadeiro discípulo, deve seguir meus passos até o fim, sem temer nenhuma adversidade. Não deve ser vencido jamais”. Todos os dias tenho me empenhado e persistido, tal como meu mestre me ensinou, e tenho sido capaz de vencer todas as funções destrutivas.
O espírito de mestre e discípulo é uma poderosa força motriz para vencer todo tipo de função negativa. Em contraste, os que perdem de vista essa postura e se esquecem da dívida de gratidão com o mestre, acabarão consumidos cada vez mais pela própria escuridão fundamental até se tornar um súdito dos seguidores do Rei Demônio.
A postura de fé necessária para combater as funções maléficas é não temer a nada, haja o que houver; é negar-se a sucumbir à escuridão ou à negatividade. Com essa atitude, sem falta, poderemos vencer. Este é o segredo de uma vida de triunfo.

Vencer os três obstáculos e as quatro maldades para atingir o estado de Buda

O Rei Demônio se apossa dos corpos das esposas e dos filhos para que eles desviem seus maridos ou pais do caminho correto. Ele também se apossa do soberano a fim de ameaçar o devoto do Sutra de Lótus, ou possui os pais e as mães, e os fazem repreender seus devotados filhos (WND, v. 1, p. 496).
Nitiren Daishonin esclarece que as funções do Rei Demônio também se manifestam sob a forma de oposição dos pais, cônjuges e filhos e, inclusive, das autoridades seculares, com o intuito de obstruir a prática de quem crê no Sutra de Lótus.
Sem dúvida, a frase “O Rei Demônio se apossa (...) os pais e as mães, e os fazem repreender seus devotados filhos” tocou o coração dos irmãos Ikegami. Pois a situação na qual se encontravam tinha muito a ver com os esquemas do sacerdote Ryokan,34 do templo Gokuraku, e com outras influências negativas. Daishonin também afirma que o pai deles, Yasumitsu,35 da mesma forma, havia sucumbido à influência do Rei Demônio do Sexto Céu, que os estava atacando com o propósito de lhes obstruir a fé.
Portanto, Nitiren Daishonin orienta os irmãos a discernir a verdadeira natureza dessas funções maléficas, que, em nenhuma circunstância, deveriam render-se à influência delas.
Em “Carta aos Irmãos” e em muitos outros escritos, Daishonin oferece orientação e alento incansáveis aos discípulos que estavam sendo pressionados a escolher entre a fé e a devoção filial. A verdadeira devoção filial consiste em, como filho, atingir o estado de Buda seguindo o supremo ensino budista e, desse modo, conduzir os pais à felicidade eterna.
Os irmãos Ikegami mantiveram a fé exatamente como o mestre lhes ensinou, e triunfaram de maneira esplêndida sobre todas as dificuldades e todos os obstáculos que se ergueram diante deles.
Hoje, enquanto o mundo se debate em crises econômicas sem precedentes, vemo-nos expostos a obstáculos de todos os tipos. Por essa razão, é imperativo que triunfemos em nosso coração e recitemos Daimoku constantemente durante esse processo.
Quando estabelecermos a “fé para superar obstáculos” como a base de nossa vida, poderemos transformar definitivamente o negativo em algo positivo, de acordo com o princípio de “transformar o veneno em remédio”. Também poderemos, sem falta, 
transformar nosso carma, atingir o estado de Buda nesta existência e abrir mais e mais o caminho do Kossen-rufu.
Assim, triunfemos com um coração profundamente arraigado na fé, e celebremos o dia 3 de maio vitoriosos.

As dificuldades são provas da amenização do efeito cármico

Essas passagens significam que nós, que agora acreditamos no correto ensino [do Sutra de Lótus], no passado, cometemos o ato maléfico de perseguir seus praticantes e, como resultado, estamos destinados a cair em um terrível inferno no futuro. No entanto, os benefícios obtidos por meio da prática do correto ensino são tão imensos que, ao enfrentarmos sofrimentos mais leves nesta existência, podemos mudar o carma de sofrer terrivelmente no futuro. Conforme o sutra [Parinirvana] afirma, as calúnias que cometemos no passado podem ser a causa de várias retribuições, tais como [sofrer como resultado de] nascer em uma família pobre ou que mantém visões errôneas, ou ainda ser perseguido pelo soberano. Uma “família que mantém visões errôneas” significa aquela que calunia o correto ensino, e “ser perseguido pelo soberano” indica aquele que vive sob o poder de um governante maléfico. Estes são os dois sofrimentos com os quais vocês [irmãos Ikegami] estão se confrontando agora (WND, v. 1, p. 497).
Nesse trecho, Daishonin esclarece que, embora os praticantes do ensino correto do Sutra de Lótus devam enfrentar grandes adversidades como resultado da prática budista, na realidade, isso é um benefício, por lhes permitir amenizar os efeitos do carma negativo e modificar fundamentalmente o carma. Ele diz, por exemplo, que talvez tenhamos perseguido os praticantes do Sutra de Lótus numa existência passada, falta que, em condições normais, nos destinaria a “cair em um terrível inferno no futuro”. Mas, graças aos imensos benefícios de nossa prática budista nesta existência, podemos provocar no presente a manifestação do grande sofrimento que nos aguardaria no futuro, de forma atenuada.
O Budismo Nitiren — um ensino para transformar o carma — reconhece, em primeiro lugar, que a causa de todo carma negativo, em essência, está associada à descrença e ao desrespeito à Lei Mística. Essa ação recebe o nome de “calúnia à Lei”. Esse esclarecimento acerca do que constitui o mal fundamental também permite definir o que representa o bem fundamental. Se quisermos transformar nosso carma, é importante obtermos clara compreensão da causalidade básica sobre o bem e o mal.
Esse mal fundamental da calúnia à Lei pode se manifestar em pessoas que difamam o Sutra de Lótus — ensino que permite a iluminação universal de todos os seres —, porque são incapazes de acreditar que todos possuem a natureza de Buda.36 Outra manifestação pode ser observada em pessoas que depreciam e atacam o devoto do Sutra — que se dedica em ajudar os demais a revelar a natureza de Buda. Dessa forma, o bem fundamental é exatamente o oposto; ou seja, consiste em praticar e preservar os ensinos do Sutra de Lótus e se empenhar com o devoto contra o mal básico — ou seja, aviltar a natureza de Buda das pessoas.
Receber de forma branda, no presente, as retribuições pesadas que estaríamos destinados a sofrer no futuro, mediante os “benefícios obtidos por proteger a Lei”,37 é a essência do princípio budista conhecido como “amenização do efeito cármico”. Ao experimentarmos dificuldades no curso da prática da Lei Mística, nesta existência, “os sofrimentos do inferno se desvanecerão instantaneamente” (END, v. 3, p. 127), e então, “libertados completamente dessas graves ofensas” (Cf. END, v. 4, p. 204), poderemos atingir a sublime condição de vida do estado de Buda. Em outras palavras, podemos modificar a direção de nossa vida e romper o ciclo negativo da transmigração nos maus caminhos para adotar o ciclo positivo da transmigração no estado de 
Buda. Assim é o ensino de Daishonin da transformação do carma.
Consequentemente, as dificuldades que experimentamos de forma amenizada no curso de nossa prática budista, são, na realidade, benefícios derivados de protegermos a Lei. Poderíamos dizer que o surgimento dessas adversidades demonstra que estamos transformando nosso carma.
Nesta passagem de “Carta aos Irmãos”, Dai­shonin menciona dois dos oito tipos de retribuição descritos no sutra Parinirvana,38 como exemplos específicos de “sofrimentos menores” que uma pessoa encontra na presente existência como uma função de amenizar o efeito cármico. Refiro-me aos sofrimentos de (1) nascer numa família que mantém visões errôneas e (2) ser perseguido pelo soberano. Nitiren Daishonin diz que ambas as circunstâncias refletem a situação vivida pelos irmãos Ikegami. Explica também que uma família “que mantém visões errôneas” é aquela que transgride o ensino correto, enquanto “ser perseguido pelo soberano” significa viver sob domínio de um governante perverso. O último caso refere-se, especificamente, a nascer numa época em que o governante e a sociedade, juntos, perseguem o devoto do Sutra de Lótus. Essas circunstâncias se manifestaram como sofrimentos ou dificuldades para os irmãos Ikegami, em razão dos sinceros esforços de ambos para propagar a Lei 
Mística com Nitiren Daishonin. Mas elas também demonstraram que os irmãos estavam praticando com o mesmo comprometimento que o mestre.

O processo de transformar o carma
forja e purifica nossa vida ao grau máximo

Ambos têm mantido sua fé no Sutra de Lótus; por essa razão, agora estão se libertando de seus atos malignos do passado. Por exemplo, as imperfeições do ferro ficam apa­rentes quando este é forjado. Quando uma rocha é submetida ao fogo, ela simplesmente se transforma em cinzas, mas o ouro se torna puro ouro (WND, v. 1, p. 497).
Quando o ferro é aquecido e martelado várias vezes nas chamas, impurezas que poderiam torná-lo quebradiço são reveladas e removidas. Quando esse processo se repete, o ferro adquire mais resistência. Do mesmo modo, como diz Daishonin, os irmãos Ikegami estavam passando por tais adversidades, porque, em virtude da forte fé, tinham provocado a retribuição cármica de graves causas passadas, com a finalidade de expiar o carma negativo.
Com base nessa passagem, quando enxergamos os fatos da perspectiva da transformação do carma ou da amenização do efeito cármico, as dificuldades adquirem um significado mais profundo. Passam a ser vistas como uma oportunidade de forjar, de aprimorar nossa fé e de elevar nosso estado de vida.
Na “Carta de Sado”, Daishonin ressalta: “O ferro, quando aquecido e forjado, torna-se excelente espada” (END, v. 5, p. 21). O processo de confrontar e desafiar o carma nos permite fortalecer e polir a fé. Ou seja, quando nos vemos expostos ao inferno do carma é que revelamos o tipo de pessoa que somos. Se nossa postura for indecisa e dúbia, vamos nos reduzir a um montículo de cinzas, fácil de desmoronar. No entanto, se mantivermos uma determinação inquebrantável, seremos como o ouro puro e nossa vida se tornará cada vez mais resplandecente.
O propósito supremo do Budismo é forjar, polir e fortalecer nossa vida. Sem esse aprimoramento, mesmo as pessoas de capacidade e talento não têm como expressar o brilho máximo. Sem esse treinamento, não é possível forjar pessoas de genuíno comprometimento. Quando nos dedicamos de corpo e alma pelo Kossen-rufu, podemos transformar o carma negativo de existências passadas e fazer nossa vida reluzir como uma espada magnífica, imponente e indestrutível.
E por falar em capacitação, no caminho de mestre e discípulo característico da Soka Gakkai, que os três presidentes — Makiguti, Toda e eu — trilharam, cada dia foi uma oportunidade de aprimoramento e de aprendizado. O Sr. Toda tinha 19 anos quando conheceu seu mestre, Sr. Makiguti. Em uma anotação de seu diário, correspondente a abril de 1920, ele escreveu: “Devo forjar a mim mesmo para poder assumir a grande missão de contribuir com meu país e ser um líder do mundo; preciso polir minha vida para estar em condições de cumprir essa missão. (...) Não me deixarei intimidar pelas críticas ou pelo desdém de meus contemporâneos; o mais importante é atingir meu objetivo (TODA, Jossei. Wakari Hi no Shuki Gokuchu-ki [Diários de minha juventude e de minha prisão]. Tóquio: Seiga Shobo, 1970, p. 86).
Na época, o jovem Jossei Toda acabara de ser contratado como professor suplente na Escola de Ensino Fundamental de Nishimati (no atual bairro de Taito, Tóquio) onde o Sr. Makiguti era diretor. Tendo encontrado o grande mestre de sua vida, ele determinou fortemente forjar-se, ou seja, polir seu caráter, aprimorar sua capacidade e se desenvolver física e mentalmente para realizar um grande objetivo.
Eu também tinha 19 anos quando a vida me pôs diante do Sr. Toda e lancei-me ao grandioso e nobre caminho de empenhar-me com o mesmo comprometimento que meu mestre. Mesmo nas horas mais adversas, quando a empresa do Sr. Toda estava prestes a falir, continuei a apoiá-lo e a protegê-lo ao máximo e suportei todo o peso das críticas impetuosas da sociedade.
A seguinte anotação em meu diário, correspondente a dezembro de 1950, expressa meu sentimento naqueles dias de extrema dificuldade:
Lutas e adversidades!
No curso delas, cultivarás
o verdadeiro humanismo.
No curso delas, forjarás tua vontade férrea.
No curso delas, conhecerás
lágrimas de verdade.
No curso delas, saberás que ali
está tua revolução humana.
(IKEDA, Daisaku. A Youthful Diary: One Man’s Journey from the Beginning of Faith to Worldwide Leadership for Peace [Diário da Juventude: a jornada de um homem do início da fé à liderança pela paz]. Santa Mônica, Califórnia: World Tribune Press, 2000. p. 67.)
Muitas pessoas que tinham uma grande dívida com o Sr. Toda, de repente, voltaram-se contra ele. Esquecendo-se da gentileza do mestre, elas o insultaram e o abandonaram. Mas eu continuei imutável. Foi uma honra passar por dificuldades ao lado dele. Forjar a vida em meio às adversidades é o caminho que conduz à vitória. Orava com todo o meu ser para que meu mestre, o mais rápido possível, pudesse liderar nosso movimento pelo Kossen-rufu como segundo presidente da Soka Gakkai. E me lancei a uma luta febril para realizar esse objetivo.

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