segunda-feira, 29 de agosto de 2011

“O Portal do Dragão” [1] - 1 º GRAU


“O Portal do Dragão” [1]

Edição 508 - Publicado em 11/Dezembro/2010 - Página 21

Escrito de Nitiren Daishonin

“Meu desejo é que todos os meus discípulos façam um grande juramento”
Perpetuar o grande desejo de dedicar-se pela felicidade dos seres humanos
por Daisaku Ikeda
Na China, existe uma cachoeira conhecida como Portal do Dragão. Suas águas precipitam de uma altura de trinta metros a uma velocidade superior à de uma flecha lançada por um robusto arqueiro. Inúmeras carpas reúnem-se aos pés da cachoei­ra na esperança de subi-la. Aquela que conseguir o feito vai se transformar em dragão. No entanto, nem um único peixe em cem, mil ou dez mil consegue realizar a façanha, mesmo depois de dez ou vinte anos de esforços. Alguns são arrastados pela forte correnteza, outros caem nas garras de águias, falcões, milhafres e corujas e outros são presos em redes, armadilhas, ou, ainda, são atingidos por flechas de pescadores que se enfileiram em ambas as margens do rio de dez tyo de largura. Tal é a dificuldade que uma carpa encontra para se tornar um dragão. (...)
Atingir o estado de Buda é tão difícil quanto uma pessoa de classe baixa entrar para o círculo da nobreza ou uma carpa escalar o Portal do Dragão. Por exemplo, Shariputra praticou austeridades de bodhisattva durante sessenta kalpa com o propósito de atingir o estado de Buda. Mas, no final, foi incapaz de perseverar e retrocedeu à prática dos dois veículos. Mesmo os que haviam estabelecido laços com o Sutra de Lótus nos dias do Buda Grande Excelência da Sabedoria Universal mergulharam nos sofrimentos do nascimento e da morte por um período de kalpa infindável como as partículas de pó de um grande sistema de mundos. Outros, que receberam as sementes do estado de Buda num passado ainda mais remoto, sofreram durante um período de kalpa infindável como as partículas de pó de incontáveis grandes sistemas de mundos. Todas essas pessoas praticaram o Sutra de Lótus. Porém, quando se viram, de alguma forma, atormentadas pelo Rei Demônio do Sexto Céu, que havia se apossado do governante e de outras autoridades, elas recuaram e abandonaram a fé. Por esse motivo, vagaram pelos seis caminhos durante incontáveis kalpa.
Até pouco tempo, esses acontecimentos pareciam não ter relação conosco. Hoje, no entanto, vemo-nos enfrentando o mesmo tipo de provação. Meu desejo é que todos os meus discípulos façam um grande juramento. Somos afortunados por estarmos vivos depois da grande epidemia que assolou o país nos dois últimos anos. Mas, agora, com a iminente invasão mongol, parece que poucos sobreviverão. No final, ninguém pode escapar da morte. Quando ela chegar, o sofrimento será exatamente igual ao que experimentamos neste momento. Visto que a morte é a mesma em qualquer um dos casos, o senhor deveria estar disposto a oferecer a vida em prol do Sutra de Lótus. Pense nesse oferecimento como uma gota de orvalho que se reintegra ao oceano ou uma partícula de pó que retorna à terra. Uma passagem do terceiro volume do Sutra de Lótus afirma: “Imploramos para que o mérito obtido por meio desses oferecimentos se estenda amplamente a todas as pessoas de forma que nós e os demais seres vivos entremos juntos no Caminho do Buda” (LS, v. 7, p. 130).
Com profundo respeito,
Nitiren
No sexto dia do décimo primeiro mês.
Resposta a Ueno, o Sábio
Escrevo esta carta em profunda gratidão
por sua dedicação durante
os acontecimentos em Atsuhara. 
(WND, v. 1, p. 1002-1003)

Explanação

Os jovens são o “pilar” que sustentará a paz mundial. Os jovens são os “olhos” que abrirão a visão do futuro da humanidade. Os jovens são a “grande nau” que conduzirá todos os povos à felicidade.1 Hoje, mais do que nunca, a época clama por uma aliança de jovens corajosos que se levantem em defesa da verdade e da justiça. Os jovens são a esperança do amanhã. Quando o coração dos jovens arde de paixão e entusiasmo e acalenta nobres ideais, o futuro da sociedade irradia luz. Quem molda a época são os jovens. Por isso, nossa missão e responsabilidade, como budistas, é desenvolver jovens capazes de assumir essa tarefa.
Também é especialmente importante que nós, membros da SGI, asseguremos um fluxo contínuo de jovens sucessores que percebam com clareza a dor e o sofrimento da sociedade e que sejam pioneiros de uma nova era. Este é o único meio pelo qual poderemos realizar a nobre tarefa do Kossen-rufu. Líderes autênticos do Kossen-rufu desenvolvem jovens e confiam tudo a eles.
De nossa parte, é importante conservarmos sempre o espírito juvenil e nos empenharmos com os jovens. Precisamos forjá-los e legar-lhes o futuro com total convicção. Os que se dedicam sempre ao lado dos jovens são pessoas vencedoras, possuidoras de um espírito sublime. Em contrapartida, os que usam ou exploram os jovens atuam como ditadores arrogantes, preguiçosos, covardes e incompetentes.
O tema principal do Sutra de Lótus nos mostra Sakyamuni transmitindo a Lei aos verdadeiros sucessores e confiando-lhes a missão de propagá-la amplamente depois de sua morte. De modo similar, no Gosho, vemos o Buda Nitiren Daishonin orando incessantemente pelas pessoas capazes “de herdar o espírito do Sutra de Lótus” (WND, v. 1, p. 839), desejando, de coração, saúde, vitória, segurança, longevidade e progresso a seus seguidores. As cartas do Buda são repletas de instruções e alento aos discípulos que o sucederão.
Neste mês profundamente significativo [março de 2008], em que celebramos o 50º aniversário do Dia do Kossen-rufu, 16 de Março2 — ocasião solene da passagem do bastão da propagação mundial do Mestre para os discípulos —, gostaria de estudar o escrito “O Portal do Dragão” para aprofundar a compreensão do significado dessa transmissão trans­cendental de vida a vida. Esta é uma carta enviada a Nanjo Tokimitsu, que tinha, na época, 21 anos. O jovem lutava para proteger os companheiros de fé que viviam sob pressão extrema da Perseguição de Atsuhara.
Na carta, Nitiren Daishonin proclama: “Meu desejo é que todos os meus discípulos façam um grande juramento” (WND, v. 1, p. 1002). Esse “grande juramento” é o juramento do Buda — a realização do Kossen-rufu —, conforme explica: “O ‘grande juramento’ refere-se à propagação do Sutra de Lótus” (OTT, p. 82). É também o nobre compromisso na declaração de Nitiren Daishonin em “Abertura dos olhos”: “Faço aqui meu juramento. (...) Eu serei o pilar do Japão. Eu serei os olhos do Japão. Eu serei a grande nau do Japão. Este é o meu juramento, jamais recuarei um único passo!” (END, v. 4, p. 201)
Em seu exemplar pessoal dos escritos de Nitiren Daishonin, o primeiro presidente da Soka Gakkai, Tsunessaburo Makiguti, sublinhou duas vezes a passagem: “Faço aqui o meu juramento”, e também escreveu na margem, em letras graúdas: “grande juramento”. Ele viveu fiel a esse juramento por toda a vida, sem jamais esmorecer diante da perseguição das autoridades militares japonesas. Do cárcere, poucos meses antes de morrer, o presidente Makiguti enviou uma carta a seus familiares, na qual revela a serenidade espiritual de alguém que dedicou a vida à propagação da Lei Mística. Ele escreveu: “É natural que os três obstáculos e as quatro maldades tenham me atacado; exatamente como afirma o Sutra”. (MAKIGUTI, Tsunessaburo. Makiguchi Tsunesaburo Zenshu [Obras Completas de Tsunessaburo Makiguti]. Tóquio: Daisanbunmei-sha, v. 10, p. 301, 1987.)
Jossei Toda, discípulo de Tsunessaburo Makiguti e futuro segundo presidente da Soka Gakkai, foi preso junto com o seu mestre em 6 de julho de 1943. Lá, passou dois anos e meio. Ao ser libertado, levantou-se sozinho em meio às ruínas de uma nação devastada pela guerra para reconstruir a Soka Gakkai. Sua firme determinação é expressa na Canção dos Companheiros, que ele compôs:
Recebo agora
O decreto do Buda
E levanto-me só,
Sustentando orgulhosamente
O grande juramento
De propagar a Lei Mística.
Os aliados são poucos,
Muitos são os inimigos.
O Sr. Toda também declarou: “Por maiores que sejam as dificuldades, jamais quebrarei o grande juramento do Kossen-rufu (...) Farei o que for preciso, ou seja, vou me dedicar para salvar os pobres, os doentes e os que sofrem. Por esse ideal, não pouparei esforços para falar sobre a Lei”. (TODA, Jossei. Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Jossei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbun-sha, v. 4, p. 61-62, 1989.)
Quando jovem, levantei-me sozinho como fiel discípulo de Jossei Toda e fiz o que pude para apoiá-lo. No curso dessa luta, herdei o grande juramento de meu mestre. O grande juramento do Kossen-rufu somente é herdado na luta compartilhada por mestre e discípulo.
Minha determinação de empreender uma luta compartilhada com meu mestre continua até hoje. Não houve uma única jornada em que o Sr. Toda tenha se ausentado de meu coração. Tenho vivido cada dia de minha existência, nestes cinquenta anos, com o mesmo juramento e compromisso daquele “16 de Março”.
Hoje, meu desejo mais ardente e o objetivo que estou desafiando ao máximo é possibilitar a cada pessoa — especialmente aos jovens — desfrutar e irradiar a alegria profunda e absoluta que advém da nossa dedicação ao grande juramento do Kossen-rufu.
No escrito “O Portal do Dragão”, que estudaremos nesta oportunidade, Nitiren Daishonin pede ardentemente ao jovem discípulo que se arme com o grande juramento em prol do Kossen-rufu e que conduza a sua luta. Aprendamos com este escrito, que pode ser visto como fonte de inspiração do espírito de “16 de Março, Dia do Kossen-rufu”.
Na China, existe uma cachoeira conhecida como Portal do Dragão. Suas águas precipitam de uma altura de trinta metros a uma velocidade superior à de uma flecha lançada por um robusto arqueiro. Inúmeras carpas reúnem-se aos pés da cachoeira na esperança de subi-la. Aquela que conseguir o feito vai se transformar em dragão. No entanto, nem um único peixe em cem, mil ou dez mil consegue realizar a façanha, mesmo depois de dez ou vinte anos de esforços. Alguns são arrastados pela forte correnteza, outros caem nas garras de águias, milhafres, falcões e corujas e outros são presos em redes, armadilhas, ou, ainda, são atingidos por flechas de pescadores que se enfileiram em ambas as margens do rio de dez tyo de largura. Tal é a dificuldade que uma carpa encontra para se tornar um dragão. (...)
Atingir o estado de Buda é tão difícil quanto uma pessoa de classe baixa entrar para o círculo da nobreza ou uma carpa escalar o Portal do Dragão (WND, v. 1, p. 1002).

O estado de Buda é atingido por meio da superação das dificuldades

Nanjo Tokimitsu levantou-se corajosamente para enfrentar a severa opressão das autoridades contra os seguidores do Buda durante a Perseguição de Atsuhara. “O Portal do Dragão” é o título de uma carta que Nitiren Daishonin, aos 58 anos, escreveu a seu jovem discípulo, em 6 de novembro de 1279.
Nanjo Tokimitsu foi um jovem sucessor que começou a praticar o Budismo de Nitiren Daishonin quando criança. Na adolescência, considerou Nikko Shonin — leal discípulo de Nitiren Daishonin — como um irmão mais velho e sempre buscou e seguiu a orientação dele. Durante toda a vida, Nanjo Tokimitsu dedicou-se incansavelmente em propagar a Lei Mística.
Esta carta foi escrita durante os momentos mais críticos da Perseguição de Atsuhara. Mesmo se expondo ao risco pessoal e com apenas 21 anos, Nanjo Tokimitsu, numa demonstração de coragem, protegeu os companheiros de fé e abrigou vários deles na própria residência. Isso fez que as autoridades governamentais o transformassem num alvo, adotando diversas sanções contra ele. Pouco tempo depois, pesadas taxas foram-lhe cobradas injustamente. Ele chegou a uma situação em que mal podia manter um cavalo para o transporte pessoal ou oferecer à esposa e aos filhos vestimenta adequada. Nesta carta, Nitiren Daishonin refere-se a Nanjo Tokimitsu [a quem também chamavam Ueno por causa da vila que administrava] como “Ueno, o Sábio”, em louvor à incansável luta pela justiça diante dos obstáculos.
No pós-escrito da carta, o Buda expressa admiração e gratidão ao discípulo. Os termos japoneses originais são ambíguos e, por isso, é difícil interpretar o verdadeiro significado. Uma das formas seria: “Escrevo esta carta em profunda gratidão por sua dedicação durante os acontecimentos em Atsuhara” (WND, v. 1, p. 1003).
Nesse caso, a frase é de profundo louvor a Nanjo Tokimitsu pela dedicação durante o ataque mencionado e de agradecimento pela devoção. Porém, há outra forma de ler o texto: “Escrevo esta carta profundamente impressionado com os acontecimentos em Atsuhara”. Essa forma expressa a admiração de Nitiren Daishonin ao saber que alguns humildes camponeses de Atsuhara estavam dispostos a dar a vida pela fé, com o mesmo espírito abnegado que ele possuía. Nesse sentido, a carta pode ser vista como a resposta de Nitiren Daishonin a todos os seguidores de Atsuhara, que manifestaram forte fé. Ou seja, ele havia endereçado o escrito a Nanjo Tokimitsu por considerá-lo representante dessas pessoas.
Mas de uma maneira ou de outra, é um escrito em que o Buda elogia o esforço abnegado de seus sucessores e ensina que, nessa maneira de praticar, pulsa o grande juramento ou compromisso compartilhado de mestre e discípulo.

A lenda do Portal do Dragão

Nitiren Daishonin ressalta na carta que atingir o estado de Buda implica superar muitos obstáculos e situações extremas. Para ilustrar esse princípio, ele faz uma analogia com a lenda chinesa de uma cachoeira conhecida como Portal do Dragão e com um episódio da história japonesa sobre o clã Taira. Cita também um exemplo extraído dos escritos budistas, que conta como Shariputra, um dos dez principais discípulos de Sakyamuni, retrocedeu na prática budista numa existência passada.
O Portal do Dragão é uma cachoeira lendária da China. Algumas fontes afirmam que se localizava no trecho superior ou médio do rio Amarelo. Conta a lenda que as carpas que conseguissem subir a cachoeira se transformariam em dragões. Neste escrito, Nitiren Daishonin descreve a cachoeira dizendo que possui trinta metros de altura e dez tyo (mais de um quilômetro) de largura. Em outros escritos (como “Carta a Akimoto” [WND, v. 1, p. 1021] e “A escalada do Portal do Dragão” [WND, v. 2, p. 673]), menciona que ela mede trezentos metros de altura e está situada no monte Tient’ai.3 Em virtude de tais divergências, é difícil chegar a uma descrição concludente da cachoeira. Seja como for, a lenda diz que a força da correnteza era tão intensa que praticamente nenhuma carpa, por mais que tentasse, conseguia subir e chegar ao topo da cachoeira. Além dessa dificuldade, aves de rapina e pescadores ficavam à espreita em ambas as margens para apanhá-las.
Somente uma carpa que superasse tantos impedimentos e que chegasse rio acima se transformaria em dragão com o poder de controlar a chuva, os trovões e as tormentas. A história é mencionada no clássico chinês O Livro da Dinastia Han Posterior. Em muitos países do Oriente, até hoje, emprega-se a expressão “escalar o Portal do Dragão” como sinônimo de luta contra os obstáculos ou de superação de grandes barreiras para chegar ao êxito na sociedade ou na profissão.
Com esse exemplo, Nitiren Daishonin explica a Nanjo Tokimitsu que manter a prática budista constante e corretamente, até o fim, é uma empreitada repleta de dificuldades como as enfrentadas pelas carpas para escalar o Portal do Dragão e se transformar em dragões. A força e a velocidade com que as águas precipitam, arrastando os peixes correnteza abaixo, podem se comparar com as condições de uma era maléfica, contaminada pelas cinco impurezas,4 conforme descrita pelo Sutra de Lótus. Por sua vez, as aves de rapina e os pescadores assemelham-se aos três obstáculos e às quatro maldades,5 e aos três poderosos inimigos,6 que tentam nos impedir de atingir o estado de Buda.
Perseverar na fé na era maléfica dos Últimos Dias da Lei é como nadar rio acima contra a poderosa correnteza. Já é bastante árduo resistir às forças insidiosas de nossos próprios desejos mundanos7 e da escuridão fundamental.8 Sakyamuni compara essas forças com uma poderosa correnteza.9 Nitiren Daishonin explica que isso é mais certo ainda nos Últimos Dias, quando a engenhosidade, o conhecimento e o saber aparentemente notáveis do ser humano são inundados pela maré inexorável de impulsos ilusórios alimentados pelos três venenos — avareza, ira e estupidez —, uma correnteza ainda mais impetuosa que leva à destruição como uma força do mal.10
Precisamente por ser tão difícil manter a fé na Lei Mística numa era assim, os laços de mestre e discípulo adquirem importância decisiva no Budismo. Do mesmo modo, torna-se indispensável a existência de uma comunidade harmoniosa de praticantes solidamente unidos por um mesmo propósito — denominada por Nitiren Daishonin “diferentes corpos, uma única mente”.
A Soka Gakkai possui laços de mestre e discípulo com a força necessária para resistir a quaisquer adversidades. Seus membros — pessoas comuns de espírito nobre, que estão polindo a vida enquanto se dedicam à fé com o mesmo compromisso que o Mestre — mantêm firme união. Como magníficos dragões nascidos da escalada triunfante da cachoeira, incontáveis membros vivem com dignidade e convicção fortalecidas pelo desafio pessoal de dar continuidade à fé. São pessoas que superam a si mesmas.

Os esforços do presidente Makiguti para encorajar cada pessoa

Em 1939, o Sr. Makiguti viajou pela primeira vez à cidade de Yame, situada na província de Fukuoka, Kyushu (ilha do extremo sul do arquipélago japonês) para compartilhar com os demais o Budismo Nitiren. Durante a viagem, ele falou sobre um escrito de Nitiren Daishonin intitulado “A escalada do Portal do Dragão” (WND, v. 2, p. 673). Dirigindo-se a uma senhora que, incentivada pelo marido praticante do Budismo, decidiu se tornar membro da Soka Gakkai, o presidente Makiguti disse: “Deve superar as adversidades e tornar-se um valor humano esplêndido. Haja o que houver, jamais abandone a fé”. No dia seguinte, ele voltou a incentivar o casal: “Não percam tempo em pôr isso em prática”. Prontamente, levou os dois para visitar um conhecido dele que vivia na região de Unzen, na província vizinha de Nagasaki, para mostrar-lhes pessoalmente como era ensinar o Budismo para as outras pessoas. O Sr. Makiguti costumava orientar: “A propagação é a essência de uma religião. Uma vida consagrada a beneficiar os demais representa o grande bem”.
Naqueles dias, a viagem de trem de Tóquio a Yame levava mais de vinte e quatro horas. Mesmo assim, Tsunessaburo Makiguti viajou para Yame novamente no ano seguinte, e no subsequente, para participar de palestras e diálogos. Ele ia a qualquer parte, mesmo que fosse para ajudar uma única pessoa, seja um veterano, seja um jovem.
Numa dessas ocasiões, viajou sozinho para a cidade de Koriyama, província de Fukushima (na região noroeste da ilha principal, Honshu) para transmitir o Budismo aos pais de um jovem que havia iniciado a prática em Tóquio. Ele manteve essa conduta mesmo sob a pressão cada vez maior das autoridades militares.
Quando o Sr. Makiguti se dirigia a algum lugar, não permanecia somente ali. Procurava conhecer as regiões vizinhas e conversar com as pessoas sobre o Budismo, com o desejo de descobrir novos valores humanos para o Kossen-rufu.
O “grande juramento” do Budismo somente pode tornar-se realidade com o persistente desafio de atuar na sociedade e de dedicar-se quanto for necessário para inspirar e encorajar, de todas as formas possíveis, as pessoas que conhecemos. Por isso, os presidentes Makiguti e Toda atribuíam tanta importância ao diálogo de vida a vida e às palestras. O caminho para cumprir o grande juramento do Kossen-rufu encontra-se no contínuo diálogo com as pessoas ao redor para transmitir a elas, de coração, a grandiosidade da Lei Mística, a chave da genuína felicidade.

A destruição leva apenas um instante; a construção requer exaustivos esforços

Há uma infinidade de obstáculos que surgem para nos impedir de realizar a prática budista.
Depois de descrever o Portal do Dragão, Nitiren Daishonin oferece outro exemplo. Desta vez, a história do clã japonês Taira ou Heike. Os membros desse clã começaram como humildes guardas do palácio imperial. Por gerações, foram leais em prestar serviços até conseguirem ascender ao círculo da nobreza. Um período de 250 anos se passou antes de o clã chegar ao apogeu durante a época de Taira no Kiyomori [o primeiro samurai a ocupar o posto máximo no governo imperial].11 Mas, como sugere a famosa máxima da cultura japonesa: “Se não for um Heike [um membro do clã Taira], não é um ser humano”,12 a conduta despótica dos Taira por fim fez-se notar. O clã carecia de pessoas de caráter e capacidade, de modo que, poucos anos depois da morte de Kiyomori, foi totalmente extinto.
Um instante é o tempo que se leva para destruir algo, ao passo que, para construir, se requer anos de exaustivos esforços. Isso se aplica tanto a pessoas como a organizações. Quando o espírito infatigável e dedicado da construção é esquecido, tem-se o início da decadência, que rapidamente conduz à ruína.
A Soka Gakkai jamais deve esquecer o espírito da construção. Não podemos perder de vista a disposição fundamental de nos dedicar pela felicidade das pessoas e abrir o caminho para os jovens. Seguir o caminho de mestre e discípulo Soka significa gravar esse espírito nas profundezas da vida e fazê-lo brilhar por toda a eternidade.
Da arrogância, ingratidão e atitude burocrática resulta o declínio. Aos discípulos, a única forma de vencer esses obstáculos é fazer do coração do mestre seu próprio coração e se lançar ao desafio.
Depois de apresentar os dois exemplos — do Portal do Dragão e do clã Taira —, Nitiren Daishonin conclui: “Atingir o estado de Buda é tão difícil quanto uma pessoa de classe baixa entrar para o círculo da nobreza ou uma carpa escalar o Portal do Dragão” (WND, v. 1, p. 1002).
Exatamente por seus seguidores se encontrarem sob risco de morte, sendo perseguidos pelas autoridades, Nitiren Daishonin ensina a Nanjo Tokimitsu a atitude intrépida na fé exigida pela época. O Buda explica em termos rigorosos que o caminho para o estado de Buda é complicado e severo. O fato de Nitiren Daishonin agir assim indica a profunda confiança e elevada expectativa que tinha pelo jovem discípulo.
Por exemplo, Shariputra praticou austeridades de bodhisattva durante sessenta kalpa com o propósito de atingir o estado de Buda, mas, no final, foi incapaz de perseverar e retrocedeu à prática dos dois veículos.13 Mesmo os que haviam estabelecido laços com o Sutra de Lótus nos dias do Buda Grande Excelência da Sabedoria Universal mergulharam nos sofrimentos do nascimento e da morte por um período de kalpa infindável como as partículas de pó de um grande sistema de mundos. Outros, que receberam as sementes do estado de Buda num passado ainda mais remoto, sofreram durante um período de kalpa infindável como as partículas de pó de incontáveis grandes sistemas de mundos. Todas essas pessoas praticaram o Sutra de Lótus. Porém, quando se viram, de alguma forma, atormentadas pelo Rei Demônio do Sexto Céu, que havia se apossado do governante e de outras autoridades, elas recuaram e abandonaram a fé. Por esse motivo, vagaram pelos seis caminhos durante incontáveis kalpa (WND, v. 1, p. 1002-1003).
1. O presidente da SGI, Daisaku Ikeda, parafraseia a declaração de Nitiren Daishonin em “Abertura dos olhos”: “Eu serei o pilar do Japão. Eu serei os olhos do Japão. Eu serei a grande nau do Japão. Este é o meu juramento, jamais recuarei um único passo!” (END, v. 4, p. 201)
2. Em 16 de março de 1958, Jossei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, confiou o futuro do Kossen-rufu ao discípulo Daisaku Ikeda e aos membros da Divisão dos Jovens. 
3. Monte Tient’ai: Montanha situada na província chinesa de Zhejiang, onde o Grande Mestre Tient’ai viveu e estabeleceu sua escola. Tanto o nome da escola como do fundador derivam dessa montanha. O monte Tient’ai prosperou como centro do budismo chinês, e vários templos foram erigidos ali.
4. Cinco impurezas: As impurezas da época, do desejo, dos seres vivos, da visão (ou do pensamento) e da própria vida. São mencionadas no 2º capítulo do Sutra de Lótus, “Meios”.
5. Três obstáculos e quatro maldades: Diversas obstruções e impedimentos à prática budista. Os três obstáculos são: (1) obstáculo dos desejos mundanos; (2) obstáculo do carma; e (3) obstáculo da retribuição. As quatro maldades são: (1) o impedimento dos cinco componentes; (2) o impedimento dos desejos mundanos; (3) o impedimento da morte; e (4) o impedimento do Rei Demônio do Sexto Céu.
6. Três poderosos inimigos: Três tipos de pessoas arrogantes que perseguem os que propagam o Sutra de Lótus na era maléfica posterior à morte do Buda Sakyamuni. São descritos no verso de vinte linhas do 13º capítulo do Sutra de Lótus, “Devoção Encorajadora”. O Grande Mestre Miao-lo, da China, classificou-os em três categorias: (1) leigos arrogantes; (2) sacerdotes arrogantes; e (3) sábios falsos e arrogantes.
7. Desejos mundanos: Também chamados ilusões, impurezas, paixões terrenas ou simplesmente desejos. Termo genérico com que se designam todas as funções da vida (incluindo-se os desejos e as ilusões) que ocasionam sofrimento físico ou psicológico e impedem a busca da iluminação.
8. Escuridão fundamental: Também chamada ignorância primordial ou fundamental. A ilusão mais profundamente arraigada na vida, que origina as demais ilusões. Nesse sentido, a escuridão denota incapacidade de enxergar ou reconhecer a verdade, particularmente a verdade de que nossa vida possui, na forma inerente, a natureza de Buda.
9. O Buda declara que podem ser consideradas “pessoas que atravessaram a poderosa correnteza dos desejos mun­danos” aquelas cujo coração é livre de impurezas. [Em Discursos Agrupados (Suttanipata), Tradução de K.R. Norman. The Pali Text Society, v. 2, n. 1082 , p. 122, 1995; cf. Budda no Kotoba-Suttanipata (Palavras do Buda — Suttanipata). Tradução de Hajime Nakamura, Tóquio: Iwanami Shoten, 1994, p. 228.]
10. Nitiren Daishonin diz: “A avareza, a ira e a estupidez no coração das pessoas no mundo impuro dos Últimos Dias são tão extremas que estão além do poder de controle dos sábios ou veneráveis, porque, apesar de o Buda ter curado a avareza com o remédio da meditação sobre a impureza do corpo, contido a ira com a meditação sobre a benevolência universal e tratado a estupidez com a meditação sobre a cadeia de doze elos de causalidade, ensinar essas doutrinas agora só tornaria as pessoas piores e aumentaria a avareza, a ira e a estupidez delas (WND, v. 1, p. 1121).

Um comentário:

  1. ótima matéria,para ser estudada em grupos,gostei muito de estudar esta materia ,me sinto mais forte como um dragão,sempre estive com as maldades ao meu lado .
    acredito sempre no daimoku.

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